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4.10.12

O homem que apanhou de uma mandioca

Era uma noite de carnaval, e já sabemos o contexto: balbúrdia, cerveja e o inusitado.
Havia um pé de mandioca, uma pobre planta que nasceu no interior do interior, e que levava uma vida medíocre, esperando faceira pelo seu fim. Nasce da terra este falso pé de maconha. Eis o ciclo desta triste existência: Nascer da terra como iguaria perfeita para uma costela bem gorda, e na boca de um gaúcho trombudo morrer, descançando na pança do taura por três dias, para depois voltar, processada, para a terra que lhe deu vida, adubando as novas gerações.
Este é o ciclo natural. Esta é a natureza da vida deste vegetal. Uma vida tranquila, serena e já escrita. Mas sempre na vida acontece o inusitado. E neste carnaval o inusitado surgiu, para tristeza deste meu grande amigo, que vamos chamar de Pedro.
Era madrugada, o baile estava lotado. O Pedro, como de praxe, estava borracho por demais, não conseguindo andar em uma linha reta por mais de dois metros. E como desgraça pouca é bobagem, deu vontade de cagar no vivente. Porém, como disse, o baile estava lotada. Ou seja, o banheiro também estava "lotado". Mas o Pedro era um cara esperto, com espírito aventureiro, um amante da natureza e da vida livre. E então resolveu cagar no mato.
Rumou pra fora do bailão e avistou o mandiocal. Pronto. O lugar perfeito. Poderia até limpar o bodoso com um ramo de folhas verdes, no melhor estilo campeiro. Mas bah! Foi-se o xirú, tropeçando nas próprias patas. Baixou as calças e pôs-se a cagar. Tudo perfeito.
Mas o inusitado surgiu, e um pé de mandioca, indignado com a atitude do xirú cagão, que lhe respingava o caule com merda, passou uma rasteira. Bêbado, Pedro não conseguiu se desvencilhar do golpe e caiu. Caiu em cima da própria merda. Não bastando, Pedro tentou revidar, e errou o golpe. Caiu de novo. Era madrugada, o baile estava lotado, e o Pedro todo cagado.
Mas não há de ser nada, Pedro jogou as cuecas foras, limpou-se com as meias, ignorou o pé de mandioca, engoliu sua vaidade, e raciocinou: era madrugada, o baile estava lotado e ninguém iria notar.
Estava eu no banheiro descarregando litros de cerveja para recarregar o corpo com mais litros de cerveja, quando irrompeu no recinto um cheiro tenebroso, que destoava de toda catinga do ambiente. Quando fui lavar as mãos - sim, eu lavo as mãos - encontrei o Pedro com uma cara estranha. Cara de guri cagado. E ele estava. O cheiro que exalava daquele corpo empregnava no ar como dente de alho amassado, como perfuma de puta de rodoviária, como... merda. Pedro lavava as mãos, lavava a camiseta e não adiantava. Pedro estava cagado. Que merda!
Ao contrário do que pensava, não foi apenas um golpe que Pedro sofreu. Foi uma coça, uma sova, uma surra. Pedro perdeu as meias, as cuecas e mesmo assim estava repleto daquela mistura de merda e barro, nos tênis, nos joelhos, nos cotovelos. Pedro estava na merda.
E como tudo na vida, com tudo se acostuma. Até com o cheiro da merda. E fomos todos embora... com o Pedro. Agora muito mais espertos e conscientes: aquilo que se planta, colhe; aqui se faz, aqui se paga; não se mexe com quem tá quieto; aquilo que se dá à Deus, ele lhe dá em dobro... inclusive merda.
O pé de mandioca, dizem, ainda vive no mandiocal como uma alma penada a assustar os transeuntes que se arriscam a cagar no mato. Já o Pedro segue supimpa nesta vida fácil, jovial, esperto e com a pele muito vistosa, porém, ele nunca mais comeu mandioca. Por que será?

17.9.12

não tá morto quem peleia, apesar de todos urubus...

Buenas, em tempos de semana farroupilha, mesmo que o final seja trágico, vale a pena contar este causo, um tanto que verídico, e que traduz um pouco o sentimento de luta do gaúcho, que mesmo sabendo que o pior é inevitável, luta com todas as suas forças até o fim, sem se entregar, sempre valente.
A história se passa no litoral gaúcho, em épocas de carnaval, portanto de grande esbórnia etílica. Como de praxe, o xirú guasca, do qual vou preservar o nome, estava navegando em mares de cervejas, a noites e dias. Para curar a resssaca, rumou para a praia com a pândega, municiado de um isopor abarrotado de latinhas.
Lá estando, o vivente teve um aborrecimento intestinal provavelmente provocado pelo excessivo consumo do sumo de cevada, ou seja, deu vontade do índio cagar.
A vida é cruel. O índio, antes um xirú grosso e de pouco trato, era agora um sujeito estudado, e teve um sentimento ecológico de poupar a casa da mãe Iemanjá do despejo in natura do que outrora fora suas refeições (depois confessou que teve medo de ser pego cagando com as calças na mão, vai que baixa a maré bem na hora, com toda praia assistindo). Melhor tomar o rumo de casa.
E foi o que fez o xirú. A casa era pertinho da praia, pensou. Mas perto e longe é relativo. Uma coisa é andar cinco quadras sem estar necessitado, outra é andar dois quarteirões com o bucho cheio de bosta, sentindo a pressão provocada pelos baldes de cerveja borbulhando no intestino. Quem já se viu apertado, em situação semelhante, sabe bem como é, a buchada fica como um Carandirú super lotado, com tudo o que está preso querendo sair, em uma terrível pressão.
Só que o xirú era guasca, tinha sangue gaudério, e por ser gaucho enfrentou o perigo, de peito aberto e alma valente. Levantou-se, avisou a cambada e foi-se em direção a casa, sofrego, cambaleando, com o olhar fixo e a mente focada. Não houve teta suculenta ou bunda de sereia que tirasse a concentração do vivente, que saiu flutuando pela areia quente, atravessando o basalto fervilhante, cerrradito.
Mas como já disse, a vida é cruel. Tem a lei de Murphy, que diz que nada tá tão ruim que não pode ficar pior, que quando cai o pão, cai sempre com o schmier pra baixo, coisa e tal. E foi verdade.
O xirú chegou em frente ao portão da casa e.... fechado. A merda gritando por liberdade, um vulcão de bosta em plena erupção e a bosta do portão fechado. Chaveado. E a chave lá na distante praia. E agora, o que fazer?
Na hora o xirú lembrou do dito gaudério: não podemo se entrega pros home, de jeito nenhum! Isso mesmo, porque não tá morto quem peleia. E o xirú voltou rumo a praia, suando frio, troteando igual cachorro manco.
Chegou na praia, sério, reto e objetivo, sem falar uma palavra, pegou a chave e se pôs novamente rumo ao cafofo. Pobre vivente, imaginem o desespero de manter a honra limpa e intacta. Como evitar o pior? Como escapara incólume disto tudo? Não tá morto quem peleia, pensou novemente.
O caminho agora era muito maior, o sol muito mais quente, e o Carandirú muito mais borbulhante.
O olhar antes aflito, agora era de total desespero. Não podia correr, se não o bicho pegava. Não podia parar, porque o bicho também pegava. E foi-se o xirú, como uma boitatá de olhos de fogo, que deixa pelo pampa seu rastro de luz, o guasca se esgueirava pelo caminho, deixando nuvens do vapor daquela panela de pressão abarrotada de chucrute cozido e recozido pelo suco gástrico do vivente.
A cada dez passos, uma parada estratégica, para suportar a pressão. Bodoso cerrado, olhos esbugalhados, sem sequer respirar, em um total desespero. Pois não é que o xirú venceu a porfía e chegou até a frente da casa, invicto, sem sujar sua bandeira. E rompeu a primeira de três portas, acertando a chave de cara. Deus está olhado por mim, pensou, não tem como perder esta luta. Imagine, em dez opções, acertou de cara, na primeira.
Já na segunda porta, não teve tanta sorte, ou rezou pouco, vai saber. A chave certa não era a que estava na mão, tampouco era a do lado, ou a do outro lado. Vai saber. O desespero deixa a pessoa cega, e na guerra, o sujeito sempre tem que estar lúcido, sóbrio (isso era impossível, era Carnaval...)mesmo que sejas valente e destemido, só vencerá se tiveres a mente iluminada.
Viu-se então o xirú frente a frente com a Velha Senhora, que abria seus longos braços para abraçar o bravo guerreiro. O pior era inevitável, o fim estava próximo e se desenhava triste, teria que achar a chave, abrir a porta e chegar até a outra porta. Entregar-se? Jamais!!!
Sou do Sul, Deus é Gaúcho, e não podemos se entregar pros homens, de jeito nenhum, amigo e companheiro, não tá morto quem luta e quem peleia, e lutar é a alma do campeiro! Pensou o xirú: não tá morto quem peleia.
E realmente não estava, mas os urubus já rondavam a carniça e agora era manter o mínimo de dignidade possível. Jogou fora sua bandeira manchada pela derrota, limpou suas feridas, abriu mais uma gelada e retornou rumo a praia. O que é um peido pra quem tá cagado.

30.7.12

Carta de Agradecimento

Meu muito obrigado, calamaro...
ainda que tenhas o cintilante lume da estrela apagado,
a foice e o martelo escondido em memórias do meu passado...

Meu muito obrigado, calamaro...
ainda que tenhas minha esperança em lama afogado,
e feito do vermelho um singelo recuerdo do êmulo colorado...

Meu muito obrigado, calamaro...
a ti e aos teus fedegosos ministros de estado,
aos teus hematófagos senadores e aos nem tão caros deputados...

Meu muito obrigado, calamaro...
pela certeza de hoje saber que homens serão sempre homens,
e que porcos também serão homens com o poder ao seu lado...
Por isso calamaro, meu muito obrigado.

Cesar Boufleur.

19.6.12

Os Guerrilheiros da Cachaça

Certa feita, uma tropa de vadios se reuniu para uma empreitada, na provinciana e apocalíptica Novo Hamburgo: rumarem à pé ao aniversário de uma moçoila que havia se enrabichado por um tibúrcio amigo da pândega. Estavam lá todos os porcarias reunidos, em volta de muitos litros de samba e de um garrafão de vinho solito, que, num canto, mirando os bêbados com um ar pidão, parecia dizer: me bebam... me bebam... Então a orda partiu pelas ruas escuras e não muito amistosas, cantando uma canção, cuja letra simplória, por si só, traduzia o momento, “...minha mãe mandou comprar um quilinho de feijão, mas meu pai me disse assim, não esquece a cachaça não, a cachaça não...” Ao chegarem no local, sem mais vinho, sem mais samba, adentraram no recinto e foram direto saciar a sede etílica. Não houve presentes ou sequer parabéns, e em menos de meia hora não havia mais bebida, nem mais comida, nem mais festa. A cambada na refrêga com as participantes da bazófia, numa bagunça cheia de cateretê, a pedreira rolando, as cabeleiras ao vento, até que estorou um bochincho de bicudos e cabeçadas que pôs termo à festinha. Acabou a diversão? Que nada, a tropa seguiu firme, abnegada a envergar os novos e não mais solitários garrafões de vinho, que como que por acaso, surgiram, até que estes - malditos! - como uma quinta coluna, se insuflaram contra a tropa! Bastardos garrafões! Recordo-me apenas do saldo final desta porfía, na medida que me afastava do campo de luta, via pelo caminho os corpos combalidos, pela força voraz do vinho vingativo, estavam os guerreiros atirados nas calçadas, babavam, vomitavam, gritavam na luz do dia palavras de ordem.... Janelas se abriam, xingamentos, resmungos, olhares de espanto e reprovação. Seguimos embora, sem sabermos o caminho de volta, por um óbvio motivo. Esta batalha épica fez surgir a Concentration Alcoólic Club, uma primitiva sociedade secreta de guerrilheiros da cachaça, hoje muito mais de memórias do que de fatos, mas com um passado cheio de histórias... Cesar Boufleur

16.9.09

O COPO

Ei-lo...
mudo, estático e compreensivo.
Cheio...
gélido, hipnótico e incisivo.

como é belo o colorido...
elmo alvo, armadura dourada

como é doce o perfume...
deste melífluo sumo de cevada!

Retina fixa,
és mais belo que as mais belas curvas femininas...
Paralizado,
teu silêncio encanta mais que o canto da mais rouca e sexy sereia,

Como és pujante, meu inimigo!
Como vencer? Como continuar a refrega sem fraquejar?
A solução:
Beber!!!E bebo... garçom traz a segunda saideira!

24.10.07

Pensamento para não perder a esperança...

O PENSAMENTO


"Alguns nascem póstumos" - Nietzsche

... eis o supra-sumo do pensamento positivo, a esperança de que algum dia, em algum lugar, alguém entenderá o incompreendido. O reconhecimento post mortem, como para o próprio Nietzsche, para Van Gogh, entre outros. Só lamento mestre Raul, mas não há que se tentar outra vez, não há que se levantar a cabeça, nem tampouco, recomeçar a andar. Porque simplesmente ainda não terminou. Não existe mais fim.

23.5.07

vingança



Na escuridão da noite
mirando a lua, se perguntava,
por que motivo, por que razão,
o tempo chegou tão cedo,
e no centro da encruzilhada,
ela encontrou um maldito
que manchou de rubro o chão da noite,
sem piedade, nem compaixão,
e surgiu a Velha Senhora, em seu cavalo,
e levou embora toda esperança de um coração

Mas en las missiones de São Sepé,
em que a falsidade não se cria
e tem valor a valentia, a coragem e a rebeldia
de viver sem ter senhor...
o tempo corre com o vento
o mundo gira sem sair do lugar,
a tristeza fixou pensamento
e a vingança hoje veio a encontrar

e o maldito agora chora
o sangue quente e a garganta aberta,
temendo a morte, Velha Senhora,
que dos covardes não leva a alma
e deixa o corpo apodrecer campo afora.


Cesar Boufleur

26.4.05

Conto de uma noite de alegria

Conto de uma noite de alegria

Era uma noite como outra qualquer,
para celebrar frustrações, idéias insanas
e o prazer etílico de transformar todas em uma linda mulher!

Mas o santo acaso fez surgir em minha frente
a figura de um anjo celestial de pujante beleza inocente,
e meu mundo prostrou-se, com meu coração disparando pungente!

A luz do mais preeminente lume, já não rutilava mais;
a música, como em um silêncio fúnebre, não se ouvia mais;
da loucura, frente aquele sorrir, eu não escaparia jamais!

Aturdido pelo inefável talante em minha mente,
de amar assaz as flores daquele corpo, paulatinamente...
eu, sem qualquer temperança, balbuciei desvairadamente:

“...moça sua bolsa caiu”
e o mundo para mim então sorriu...

"Delirium Tremens"

''Delirium tremens”

Quero um etílico para envenenar o corpo,
amolecer a alma e preparar a carne
para este último e sublime prazer.
Quero sentir o suor gélido ouriçar os pêlos,
cegar a torpe lucidez, esquecer o tempo
e a angústia da rotina do viver.
Quero embriagar meus pensamentos insanos!
Quero a hebetude dos sentimentos humanos!
Quero meu mundo em uma garrafa, para poder beber
até que todo lume desta triste vida se vá, pela escuridão a se perder...

...quero morrer bebendo, porque é melhor do que morrer de sede...

15.4.05

Amor Paradoxal

AMOR PARADOXAL
Tinha o amor como ato egoísta,
agora, absorto em voraz sensação
e sem nenhum desiderato machista,
vejo-me prostrado por mais uma paixão.

Uma simbiose sublime:
em um só corpo, dois corações;
e o meu amar que a nenhum suprime,
só se regozija do júbilo destas emoções.

Triangular amor paradoxal,
sem hipocrisia ou sequer traição,
que se explica no fruto do amor carnal:
a vida surgindo no etéreo ato da concepção.
por Cesar Boufleur.
COMENTÁRIO PESSOAL:
Esta poesia é para Laura e Eliana.

14.3.05

WHO AM I?

WHO AM I
Crossing your eyes
intro in your conscience
taking all your secrets with me
In your mind
discovering all your fears
and the answers to so many tears

I’m your worst
I’m your best
I’m all your future
your present and your past.
I’m your truth
I’m your lie
I’m who decide
if you live, if you die.

In the hole in your soul
I invade and go
filling your heart of hope
In your brain
I construct my domain
and nevermore you’ll be the same.
COMENTÁRIO PESSOAL:
Mais uma canção não musicada. A cocaína como expressão do poder. Uma força inconsciente e extremamente voraz, em uma estrutura de dominação, transformação, manipulação. Um paralelo entre o uso e a dependência. Quanto mais se tem, mais se quer, mais se precisa (muito semelhante com o nosso sistema econômico, engraçado não?). Segue a tradução em vernáculo:
Cruzando seus olhos,
entrando em sua consciência,
levando todos os seus segredos comigo.
Em sua mente,
descobrindo todos os seus medos
e as respostas para tantas lágrimas.
Eu sou seu melhor, eu sou seu pior,
eu sou todo o seu futuro, seu presente e seu passado.
Eu sou sua verdade, eu sou sua mentira,
sou eu quem decide se você vive ou se você morre.
No vazio de sua alma (é melhor que ‘no buraco em sua alma’)
eu penetro e vou..
enchendo seu coração de esperança.
Em seu cérebro
eu construo meu domínio
e você nunca mais será o mesmo.
1. O sujeito diante do pó misticamente branco, em uma simetria diabólica, vê ali o início e o fim, o nascer e o morrer (crossing your eyes – cruzando seus olhos). Aspira, e a cocaína entra queimando suas narinas, arranhando sua garganta e como a lâmina de uma espada medieval dilacerando a carne humana, abre um corte no cérebro (intro in your conscience – entrando em usa consciência), decepando a censura e libertando a palavra, que foge desesperadamente pela boca, clamando por socorro, implorando, inconsciente, que outrem cesse a matança do pensar infeliz (taking all your secrets with me – levando todos os seus segredo comigo). Iniciou-se o domínio. A cocaína no cérebro (in your mind – em sua mente), como uma bomba nuclear, explode em sensações e vai contaminando, possuindo (discovering all your fears and the answers to so many tears – descobrindo todos os seus medos e as respostas para tantas lágrimas).
2. A guerra. A batalha entre invasor e invadido, um defende e outro destrói. A cocaína como o bárbaro sanguinário que invade casas, comete saques, estupra mulheres, decapita crianças, esmaga bebês. O novo rei, o novo déspota, o novo império. É quem passará a decidir os destinos da sua vida, sem nunca estar presente em sua vida antes. Mas isso não importa, é a nova ordem, o que antes existia agora não existe mais, queimaram-se todos os livros, destruíram-se todos os quadros, apagaram-se todos os registros, é a nova ordem, a nova verdade.(I’m your worst, I’m your best I’m all your present, your future and your past – eu sou seu pior, eu sou seu melhor, eu sou todo seu presente, seu passado e seu futuro). A cocaína tornou-se o juízo de valor. Ela acusa, ela julga, ela condena (I’m your truth, I’m your lie, I’m who decide if you live, if you die – eu sou sua verdade, eu sou sua mentira, sou eu quem decide se você vive ou se você morre).
3. Está consolidado o novo domínio, não existe mais resistência, não existe mais luta. Apenas escravidão. A total submissão mental comprada por prazeres fugazes não permite a revolta do corpo doente. Numa mente de idéias vazias a cocaína penetra profundamente (in the hole, in your soul – no vazio de sua alma), como a religião perniciosa dos profetas cristãos, vai destruindo a história do indivíduo, manipulando os fatos de sua vida e incutindo novos conceitos de valores (I invade an go... filling your heart of hope – eu penetro e vou, enchendo seu coração de esperança), totalmente deturpados, falsos, mentirosos e insanos. O cérebro foi reconstruído com ideais falsos onde a mentira prolifera e contamina. Cocaína e religião (simples coincidência?). O fim chegou, num caminho sem volta em que o ser mundano segue marchando para a morte do pensar, do viver, do sorrir, do amar (In your brain I construct my domain and nevermore you’ll be the same – em seu cérebro eu construo meu domínio e nunca mais você será o mesmo).

3.1.05

PATRÃO

Patrão

Eu sou teu diabo,
também sou teu deus,
teus sentimentos agora são meus.

Eu tenho você,
teu ódio e teu amor,
tu és meu escravo, eu teu Senhor.

Este é o rito,
venha e te prostras!
Nenhuma lágrima, nenhum grito,
quando meu relho cortar tuas costas.

Apenas sorria
e agradeça de coração,
por morrer um pouco a cada dia
e enriquecer cada vez mais o bolso deste teu patrão.

13.10.04

Ouviram do Ipiranga - recuerdos de um dia sete...

Ouviram do Ipiranga – recuerdos de um dia sete...

Na manhã de um fúlgido dia, com o sol pujante e voraz,
mirando os verdes campos da paisagem ainda adormecida,
o calor incessante dirimido pelo sumo do lúpulo álgido assaz...

A pândega incoada pelos decibéis distorcidos conforme a tradição,
irrompeu o silêncio dos páramos e encetou o culto a ebrietude
pela ínclita casta que deveras o fez com obfirmada devoção...

Envoltos na cálida contenda pela pelota, sem olvidar
o refrigério etílico recôndito nas sombras da bela figueira,
e o churrasco que alhures ardia na brasa e perfumava o ar...

Na ímpia miscelânea de fatos, celebramos o preito à consumpção,
e mormente o amor, a amizade e o júbilo da suave hebetude,
que de chofre elevou minha pobre alma à sublimação!
por Cesar Boufleur.
COMENTÁRIO PESSOAL:
A “tradução” do texto é esta:
Na manhã de um dia claro, com um sol forte e voraz,
olhando os verdes campos da paisagem ainda adormecida,
o calor incessante suprimido pelo chopp gelado por demais...

A festa começou com os decibéis distorcidos conforme a tradição,
irrompeu o silêncio das planícies e deu início ao culto a bebedeira
pela ilustre turma que realmente o fez com grande devoção...

Envolvidos na ardente disputa pela bola, sem esquecer
A bebida descansando nas sombras da bela figueira,
e o churrasco que logo ali queimava na brasa e perfumava o ar...

Na herege mistura dos fatos, celebramos o aniversário,
e sobretudo o amor, a amizade e a alegria do suave entorpecimento,
que subitamente elevou minha pobre alma à sublimação!

O texto resgata os momentos da festa realizada no dia 07/09/2004.
Chegar no lugar e olhar a natureza silenciosa de uma manhã muito quente, beber um choppinho gelado e refrescante com os amigos, envoltos pelos acordes dissonantes do heavy metal no regozijo da celebração da vida, que na visão demente de quem vos escreve é sim uma celebração da morte, por morrer-se um pouco a cada dia. O futebol ao léu, sob o sol escaldante no azul do céu, remediado pelo chopp sacro-santo ao lado do campo e o churras por demais saboroso, cujo perfume criava uma aura mágica sob aquele habitat. Depois ainda teve a bocha, o chopp, o vôlei, o chopp e no final de tudo mais chopp! Tudo isso, para mim, foi sinônimo de viver...(?)

Canto dos Livres

Esta é a letra de uma música que traz no seu âmago o ideal missioneiro. De autoria de Cenair Maicá, traz o sentimento que, desde os tempos do índio Sepé até hodiernamente, ainda perdura na alma de todo xirú nascido nos páramos dos Sete Povos. É uma ode ao canto, à vida. Uma toada clamando liberdade...

O Canto dos Livres

Se o meu destino é cantar, eu canto.
Meu mundo é mais que chorar, não choro.
A vida é mais do que pranto,
é um sonho com matizes sonoros.

Hay os que cantam desditas de amores,
por conveniência agradando senhores.
Mas os que vivem a cantar sem patrão,
tocam nas cordas do seu coração.

Quem canta refresca a alma,
cantar adoça o viver
Assim eu vivo cantando,
para aliviar meu padecer.

Quisera um dia cantar com o povo,
um canto simples de amor e verdade.
Que não falasse em miséria, nem guerra
e nem precisasse clamar: liberdade!

No cantar de quem é livre,
hay melodia de paz,
horizontes de ternura,
nesta poesia de andar.

Quisera ter a alegria dos pássaros,
na sinfonia do alvorecer
e cantar para anunciar quando vem chuva
e avisar que já vai anoitecer.

E ao chegar a primavera com as flores,
cantar um hino de paz e beleza,
longe da prisão dos homens e da fome,
pra nunca cantar tristeza...

por Cenair Maicá.

Crônica ao meu amigo Tavares


Meu caro amigo. Prosa. Poesia. Poema. O que importa? Qual a métrica, qual a rima, qual a melhor estética? O que importa? Porque nos limitar a regras? Já não são tantas as que nos cerceiam? Perguntas que não precisam respostas, cada indivíduo deve construir a sua própria idiossincrasia, sem ser casuístico. A minha, no que se refere aos textos, é a de construir um jogo de palavras a fim de expressar alguma idéia, mesmo que seja a idéia de coisa nenhuma.
Devemos objurgar os circunlóquios adredemente aqui discreteados? Perscrutar no Aurélio a loquacidade supra é o desiderato, sem fulcrar-se na jactância ou pedantismo, mas com o mister de acabar com a indolência e o trivial que contamina nossas cabeças. Este é o escopo. Ou como preferes, este é o desejo, esta é a intenção. Eis o porque escrever deveras e não realmente, tálamo e não leito, talante e não desejo, e andejo ao invés de andarilho. Não quero apenas enfeitar a estrofe, ou será refrão? Talvez estribilho? Quero o pensar, o pesquisar, o conhecer. Quero a liberdade de escrever como bem entender, sem ser pautado por regras que não me dizem nada. Escrever de forma “simples” quando quiser e de forma “culta” quando me convir. Não posso concordar que só o simples é belo. Não por achar prosaico, mas pelo paradoxo da escrita e da própria vida. Afinal, o que é “simples”? E o que é “culto”? Como bem falei, depende da idiossincrasia de cada um, ou como queira, a maneira de cada um de ver as coisas. É o nosso cotidiano que determinará se a palavra é “culta” ou “simples”, e o que não é o cotidiano se não o exercício diário de alguma coisa? Não quero parecer pretensioso, nem mesmo culto, quero apenas expressar as coisas com palavras que me dizem alguma coisa (é uma redundância, mas tá e daí?).
Mas não é só isso, é mais. Precisa também ter uma idéia. Precisa também ter uma estética. Uma estética visual. Uma estética verbal. Da idéia deve surgir, latente (oculto), sentimentos. Precisa tocar o coração, desperta na alma a emoção, a paixão, o amor, ou ainda a raiva, o ódio, o rancor. A indiferença é a morte, precisa causar indignação, precisa encetar alguma sensação. Por isso meu caro amigo, deixe-me escrever... E tenho dito!
E pra homenagear esta crônica, segue supra dois textículos (eheheh...).
por Cesar Boufleur.

5.10.04

O FUNERAL

FUNERAL

Por favor, sorria
e abra os olhos para mim.
Teu caixão me agoniza,
é doloroso te ver assim.
Continuas linda,
apesar de teres chegado ao fim.
Eu te quero ainda,
mesmo coberta por rosas e jasmins.

Sorria... sorria...
Adeus tristeza,
somente alegria...

Agora, levante-se
e o passado vamos esquecer.
Uma nova vida, sem dor,
somente amor e prazer.
Por favor, volte
e acabe com meu sofrer.
Eu te prometo uma melhor sorte,
a morte, dessa vez vamos vencer.
por Cesar Boufleur.
COMENTÁRIO PESSOAL:
Veja a morte. Não a simples morte, mas o pior da morte, a morte do amor. Quem ama sozinho, não ama, sofre. E a morte de quem se ama é a transformação do amor em sofrer. Isso é o pior da morte. Você não ama mais, agora sofre.
Se a morte é cruel, pior é vivê-la. Ao morrer quem você ama, você passa a viver essa morte. A transformação do júbilo do amor na tristeza do sofrer.

27.9.04

O ANDEJO

O Andejo

Ruas e becos, buracos e afins,
todos eles nesta cidade
tem partes de mim.
Noites e dias vagando a esmo,
discreteando vaticínios,
escarnecendo a mim mesmo.
Minha infausta razão, próxima do fim,
implora: por favor sorria,
e afaste a loucura de mim!
A guarida de um beijo
e mormente um abraço pujante,
é o talante deste simplório andejo.

por Cesar Boufleur.

COMENTÁRIO PESSOAL: Solidão e loucura. Um andarilho em busca de compaixão, desesperado, delirante e carente. A tristeza que envolve a solidão, transforma a raiva de viver em recalque, ódio e rejeição. A solidão de uma mesa de bar em que a única companhia é o copo estático, mudo e compreensivo. A retina fixa mirando a magnitude feminina, cega, indiferente e soberana. A infinita capacidade de amar frente à vontade insana de ser amado. O desejo de receber amor, qualquer amor, de qualquer um, um mínimo de carinho, um afago, um abraço, um sorriso, um olhar. A solidão que se transforma em loucura.

22.9.04

Mr. Dead

Mr. Dead
Hey!!! Mr. Dead, you know what I see?
I see a fucken hole in your head,
gushing blood over your hair
and flies dancing in your mouth.
Tell me what you see... what is you belive?

Hey!!! Mr. Dead, you know what I see?
I see your body in a dirty grave,
your kids crying, a wreath of flowers
and your soul in an empty place.
Tell me what you see... what is you belive?

No God, no Lord or Jesus Christh.
No Heaven, no Promissed Land or Paradise.

Welcome to the unknow, to the eternal nothing,
withtout light, without colors, without life,
where the feelings don't survive
and the human being is only meat,
covered of worms six feets...
under!!!
by Cesar Boufleur.
COMENTÁRIO PESSOAL:
Esta é uma letra de uma música não musicada, criada nos idos tempos em que me aventurava pelas melodias dissonantes do heavy metal. Trata-se de uma heresia construída na descrença de um ateu niilista e agnóstico, extravasando conceitos particulares sobre os vaticínios quiméricos do cristianismo. A morte é o fim. Não tem alma. Não tem céu. Não tem Deus. Apenas a transformação da carne humana em adubo orgânico. Morreu, literalmente, fedeu. A vontade do ser humana em alcançar a vida eterna é mais um devaneio de sua natureza egoísta. O homem é egoísta por natureza. E isso por si só explica sua necessidade de criar a vida eterna, mesmo diante da maior certeza do fim de tudo, a morte.